quarta-feira, 30 de março de 2022
terça-feira, 29 de março de 2022
domingo, 20 de março de 2022
Poesia de Baurete Carvalho
Conceição Sardinha,
ilustre educadora!
Baurete
Carvalho
Uma
linda trajetória de vida!
Conceição
Sardinha em versos, poesia…
Mulher
guerreira, sábia, destemida…
Símbolo
da educação, harmonia…
Atuou
na direção do Liceu.
Mulher
encorajada, encantadora!
Seus
belos projetos desenvolveu…
Deixou
saudades, esta professora!
Fundou
em Campos o curso de História.
Teceu
caminhos de luz, paz, vitória!
Aos
sessenta e quatro anos faleceu…
Pianista,
tocava com primor!
Disseminou
conhecimento, amor!
Com
saber, suas funções exerceu.
Uma história eternizada
na educação…
Baurete
Carvalho
Com
simplicidade, amor,
esta
mulher dedicada,
lutou,
viveu com louvor,
deixou
marca registrada.
Otimista,
extrovertida,
trabalhou
com brilhantismo.
Sempre
foi comprometida,
símbolo
do dinamismo.
Mestra
sim, da educação,
sementes
de paz plantou,
com
fortaleza, união,
seu
espaço conquistou.
Referência
de cultura,
bordou
linhas do saber
e
com bondade, ternura,
eternizou
seu viver…
Esta
nobre professora
com
sua sabedoria,
foi
grande incentivadora,
trabalhou
com maestria.
A
poeta e trovadora Baurete Carvalho é autora dos livros de poemas “Roubaram o
coração de Julieth”, “O Canto Desajeitado” e “O Jardim de Sophia”. É membro da Acadêmico
Imortal Vitalício da Academia de Letras do Brasil seccional Campos dos
Goytacazes, membro fundador da Academia de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
Academia de Ciências Letras e Artes de São Paulo, da UBT Campos dos Goytacazes
e da Associação de Autoras e Autores Campistas.
segunda-feira, 14 de março de 2022
Biografias em Rede - Dona Conceição Sardinha - Por Hélio Coelho
DONA
CONCEIÇÃO SARDINHA, Memórias
Afetivas.
Hélio Coelho
Destacarei apenas
alguns momentos de minha convivência com Dona Conceição, sendo certo que teria
muito mais para registrar sobre essa grande mulher, poderosa matriarca, notável
educadora e corajosa democrata nos tempos sombrios da Ditadura Civil-Militar
implantada em 1964.
Ingressei no Curso de
História da Faculdade de Filosofia de Campos em 1968, e logo no primeiro ano a
figura de Dona Conceição nos deslumbrava com as aulas de Introdução aos Estudos
Históricos. Ela era uma agitadora intelectual abrindo para a turma cenários que
nem imaginávamos que que pudessem existir em nossa formação de historiadores e
professores de História. Ela era enciclopédica, multi, transdisciplinar... Como
Professora e Chefe do Departamento, percebi que ela era o dínamo gerador da
energia do Curso de História! Ficamos amigos. Em 1971, no último ano do Curso,
ela me convidou para ser Professor do Liceu de Humanidades de Campos, com a
responsabilidade substituir o Professor Dr. Aldano Séllos de Barros que havia
recomendado meu nome para assumir suas turmas no Curso Clássico em face de sua
aposentadoria. Gratidão é a palavra aos dois, para sempre.
Dona Conceição tinha
uma visão revolucionária em relação à construção do corpo docente do Curso de
História da FAFIC, diga-se de passagem, modéstia à parte, um curso respeitado
no MEC e em várias partes do Brasil como pudemos perceber em vários encontros,
cursos e congressos de âmbito regional e nacional nos anos 70, 80 e 90... Ela
observava os alunos e alunas que se destacavam e então vinha o convite para
assumir uma disciplina no Curso. Sr. Abreu, Dumas, Hélio, Marluce, Maria Nilza,
Eu, Soffiati, Humbertinho, José Fernando, e outros/as, e assim ia mesclando
os/as mestres tradicionais com os/as novos/as apaixonados/as pela História
resultando num corpo docente entusiasmado e com elevado comprometimento com o ensino
da História. Mais uma vez, minha gratidão a ela pois ser Professor do Curso de
História da Faculdade de Filosofia de Campos em 1973, com vinte poucos anos,
foi um grande impulso em minha carreira profissional. Ali permaneci até 1991.
Dona Conceição, a
Diretora do Liceu nos anos 70, anos de chumbo, período de grande repressão do
Regime Militar... com uma “Reforma do Ensino” imposta pela Ditadura via
decreto-lei 5692/71 descaracterizando o Científico e o Clássico, tornando o
“ensino médio” Profissionalizante sem dar as mínimas condições para isso, numa
visível manobra de despolitização da juventude e sua inserção no “mercado” capetalista
que se apresentava como a redenção, o “milagre brasileiro”; sob os efeitos da
tirania do Ato Institucional nº 5, de 1968 e seus penduricalhos decretos 477 e
422 proibindo a política estudantil nas escolas e universidades, cerceando
diretórios acadêmicos e transformando combativos grêmios em mansos “Centros
Cívicos”, tudo isso para dizer o seguinte: um dia Dona Conceição me chamou no
gabinete e disse sem rodeios que desejava recriar o combativo espírito da
LAECE, a gloriosa associação de estudantes liceistas fechada pela Ditadura e
transformada em acomodado Centro Cívico, ainda que ostentando o nome de Professor João Batista Tavares da Hora, um
nome de respeito na história do Liceu e de Campos dos Goytacazes. Continuando,
ela me disse: Hélio, quero que você assuma a condição de Professor Coordenador
do Centro Cívico e mobilize os/as estudantes ao invés dessa fantasia que está
aí. Pode fazer, tem meu total apoio! Aceitei o desafio e apresentei uma ideia
arrojada para o momento que a deixou fascinada! Corria o ano de 1974, tudo era
divino, maravilhoso, mas era também muito perigoso... Disse-lhe: Dona Conceição,
vamos fazer uma eleição direta para o Centro Cívico! Vamos fazer um título
eleitoral para cada aluno/a do Liceu, vamos estimular a criação de dois
“partidos”, um moderado e outro mais radical... vamos marcar um calendário
eleitoral culminando com um debate no auditório entre os candidatos. Os olhos
delas brilharam e com aquele seu jeitão disse: Vamos fazer! Essa é a Democracia
Liceista! Foi um sucesso, uma participação intensa, um alvoroço que me deixou
muito feliz, com o surgimento de lideranças com Pascoutto, Mário Filho,
Lincoln, e tantos/as outros/as defendendo o PDE-Partido Democrático Estudantil
e o PEL-Partido Estudantil Liceista... em plena Ditadura Militar...Fizemos os
títulos eleitorais iguais aos originais, preparamos cédulas rubricadas pela
diretora, a campanha agitou o cotidiano do Liceu, o debate foi um espetáculo
cívico-democrático, e Dona Conceição vibrava o tempo todo. Procurei o Juiz
Eleitoral e expliquei o que estava acontecendo e pedi que ele nos emprestasse
as urnas das eleições reais e as cortinas das cabines eleitorais e ele...achou
tudo uma maravilha e inclusive compareceu no dia da eleição. Acho que se
chamava Genarino Pignataro, um Juiz corajoso pois o Judiciário estava cerceado
pelo AI-5. Bem, sob minha coordenação, realizamos mais duas eleições... Dona
Conceição deixou a direção e não sei bem o que aconteceu pois quem assumiu em
seu lugar não tinha o seu entusiasmo com as práticas democráticas naqueles
tempos sombrios. Fica aí o registro da Conceição Sardinha corajosa e democrática!
Dona Conceição tinha esse temperamento rebelde, libertário, ainda que no exercício do dever profissional fosse extremamente severa, rigorosa, cumpridora das regras estabelecidas para o exercício profissional, seja como Professora, Diretora ou Chefe do Departamento. Mas é que ela sabia “endurecer sem perder a ternura”... Estou dizendo isso porque se por um lado foi crítica da Ditadura, ela nunca escondeu seu patriotismo sincero, seu amor ao Brasil. E quando chegava o tempo dos desfiles cívicos de 7 de Setembro lá esta ela agitando os ensaios e conclamando alunos/as, professores/as e funcionários/as do Liceu para o glorioso desfile. Ela sabia que o povo de Campos só saia das ruas depois que o Liceu passasse com seu garbo, sua banda fantástica e os aplausos ao longo das ruas e avenidas...Ela sabia que o regime autoritário era transitório no tempo histórico, mas que o Liceu era marcado pela sina da eternidade. Acho que quando ela partiu na direção de todas as respostas ela partiu com a sensação de que estava indo pro Céu ouvindo os aplausos do povo e os acordes da Banda Marcial do Liceu de Humanidades de Campos.
Hélio Coelho Professor da UFF-Campos/Serviço Social, Membro da Academia Campista de Letras e da Associação de Autores e Autores Campistas. Mestrando em Desenvolvimento Regional, Ambiente e Políticas Públicas (PPGDAP-UFF-Campos/Instituto de Ciências da Sociedade e Desenvolvimento Regional).
Fotos:
segunda-feira, 7 de março de 2022
Biografias em Rede - Conceição Sardinha
CONCEIÇÃO
SARDINHA, a quatro mãos
Eleonora
Aguiar e Sylvia Paes
Nascida em 13 de março
de 1936 em Campos dos Goytacazes, a menina Conceição de Maria, filha de Pedro
Lima Sardinha e Sílvia Viveiros Sardinha, faleceu aos 64 anos de idade, em 21
de fevereiro de 1999, vítima de ataque cardíaco, tendo sido velada no Liceu de
Humanidades de Campos, escola da qual foi professora e diretora.
Sua mãe foi professora
de culinária na escola estadual Nilo Peçanha onde ensinava os afamados doces
finos campistas e bolos para casamentos. Seu pai era contador de várias Usinas
na região, como a de Outeiro e Sapucaia, podendo dar às suas filhas uma vida de
conforto e oportunidades.
Foi casada com Fernando
Azevedo com o qual teve os filhos Luiz Fernando, Silvia Cristina, Luiza, Eneida
e Pedro.
Os seus avós maternos eram Sebastião
Viveiros de Vasconcelos e Maria Moll de Vasconcelos; ele era professor de
Português, autor do caderno de verbos que até os dias de hoje é editado,
mediante as devidas atualizações da língua portuguesa. Este fato constata a sua
competência profissional (100 anos do caderno de verbos).
O professor Viveiros foi o primeiro
homem a advogar as causas de Campos, já que na região não havia advogado e ele
detinha os conhecimentos necessários, tendo sido, para tanto, autorizado pelo
governo do estado por honoris saber.
A vovó Maria foi mulher austera e exigente, grande pianista, que compôs
a parte de piano, com Thiers Cardoso, da “Marcha Brasil”, tocada em todo a país
na época da I Guerra Mundial e é uma das mais aplaudidas quando executada pelas
bandas centenárias locais.
Conceição sempre foi boa aluna e tinha interesse por várias áreas do
conhecimento. Formou-se em piano no Conservatório de Música de Campos. Seu hobbie era a fotografia e para se
aprimorar fez vários cursos, chegando a ter um laboratório para revelar suas
obras em casa. Naquela época, não existiam fotografias coloridas: ela as
coloria à mão.
Conceição fez o curso
ginasial e o normal no Centro Educacional Nossa Senhora Auxiliadora onde sempre
se destacou pela sua brilhante inteligência e seu temperamento extrovertido.
Cursou Geografia e História na Universidade Santa Úrsula - USU -, no Rio de
Janeiro. Foi uma das responsáveis pela criação da Faculdade de Filosofia de Campos,
a FAFIC, e também pelo curso de História, do qual foi a primeira chefe de
Departamento, cargo que ocupou por vinte e cinco anos, sempre vencendo as
eleições. Foi professora titular de História Antiga e presidente da ADOFIC -
Associação dos Docentes da Faculdade de Filosofia.
Como assessora, no Departamento de
Cultura da PMCG, ajudou a elaborar o projeto de “Cem anos da Abolição” e o
“City Tour” que levava alunos da rede pública para conhecer os principais
pontos históricos da cidade.
Foi primeira diretora (mulher)
do Liceu de Humanidades de Campos - LHC. A primeira mulher a usar calças
compridas no centro da cidade: quando desceu do bonde, na praça São Salvador, ao chegar do Rio de Janeiro, aos
dezenove anos (1954), foi um escândalo. Seu jeito extrovertido não excluía uma
personalidade séria e reflexiva. Ela fazia sempre uma grande festa no
aniversário do Liceu. Havia missa em ação de graças na Catedral: os alunos com
uniforme de gala e os professores não menos elegantes. O Orfeão Juca Chagas,
regido por Dona Alcídia Perez Pia, contava com inúmeras peças em latim,
encerrando com o hino do Liceu, acompanhado por toda a igreja. A emoção era
grande em todos os corações e não era raro encontrar lágrimas nas faces dos presentes.
Era um grande orgulho ser Liceísta.
Segundo sua sobrinha
Eleonora, uma coisa curiosa sobre Conceição Sardinha é que ela se dizia ateia,
mas, foram encontradas em sua biblioteca várias bíblias, o Alcorão, O Evangelho
Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, ou seja, ela era
uma autêntica pesquisadora e buscava a verdade sobre a existência humana.
Uma mulher muito
ousada, efusiva, gostava de falar alto, gesticulando, e era sempre encontrada
rindo dos acontecimentos do dia. Como sua aluna no curso de história, eu,
Sylvia, lembro-me de várias passagens, mas vou destacar duas: uma delas é que
ela aplicava suas provas reunindo a turma de mais ou menos uns quarenta e
poucos alunos no auditório da faculdade, naquela época funcionando no Parque
Leopoldina, rua Visconde de Alvarenga. Chegava pontualmente, distribuía as
folhas de papel almaço[1]
fornecidas pela instituição, ditava a única questão da prova e saía da sala -
algumas vezes ia até a casa para alimentar os filhos ou cuidar de algum
adoentado. E tome nariz de Cleópatra. Tomando por base o escrito de Pascal que “se
o nariz de Cleópatra fosse menor, a história do mundo seria diferente”. A turma
se olhava, folheava os livros (sim, ela permitia consulta em suas provas) e
nada... Eram quatro horas de tortura e, exaustos de tanto pensar, discutir e
questionar, acabávamos escolhendo qualquer coisa para escrever, para não deixar
o papel em branco - e olha que ela exigia que todo o papel dado fosse
preenchido. Mas acabávamos encontrando a resposta.
Outra passagem foi com
um colega que acreditávamos ser “dedo duro”, informante do SNI - Serviço
Nacional de Informação -, atuante na ditadura militar, isso porque o dito cujo
era bem riponga no vestir, nunca tinha caderno ou caneta, não tinha amigos
próximos e aparecia e sumia misteriosamente. Pois que em uma prova ela deu nota
dois para o suposto informante e ainda perguntou se estava bom pra ele. Sorrindo,
ele respondeu que estava bom, sim, só não sabia se Humberto ia gostar. Humberto era
o aluno nota dez do curso de história, o queridinho de todos os professores e
colegas. Como dona Conceição costumava se ausentar durante as provas, o tal
“informante” procurou Humbertinho e pediu-lhe que fizesse a prova pra ele. A
turma, em expectativa, relaxou com a gargalhada estrondosa de Conceição que
saiu puxando o colega pelo braço, levando-o até a sala de professores onde
contou o ocorrido na maior galhofa. Contaram-me que, no caminho de volta, eles
encontraram Humberto, que, pálido, nem ousava olhar para a professora, porém
ele também relaxou quando ela, rindo, disse que o tal “informante” merecia
mesmo nota dois por pelo menos ter assinado a folha de prova: ela tinha certeza
de que ele seria incapaz de ter escrito aquela prova, mas Humbertinho merecia,
sim, nota dez.
Nas palavras da
professora Maria Emília Azevedo, Conceição passou a vida fazendo amigos e por
isso sempre rimou com perdão, conciliação e concessão. Sua amiga e também
professora de história, Marluce Guimarães, lembra seu gosto em participar dos
acontecimentos culturais da cidade e sua alegria constante.
Deixou publicado o
livro “História Romana: as tentativas de reformas dos irmãos Graco”, estudo
sobre a situação agrária no II século a.C., de 1963.
Foi homenageada pela
municipalidade, nomeando uma rua no Parque Prado, CEP
28021307, logo depois do bairro da Penha.
Referências
Jornal
Folha da Manhã – Folha 2 de 23 de fevereiro de 1999.
Jornal
Folha da Manhã – 04 de março de 1999, p. 2.
Jornal
A Cidade – Ano 65 – nº 282 de 23 de fevereiro de 1999, p. 1 e 5.
ARQUIVO DE FOTOS:
Conceição Sardinha, diretora do Liceu de Humanidades de Campos, e o professor Hélio Coelho, em desfile cívico de sete de setembro, na época realizado na Av. Alberto Torres.
Primeiro aniversário do Liceu de Humanidades de Campos sob a direção de Conceição Sardinha, com apresentação da famosa Banda Marcial. Podemos ver: Conceição Sardinha e seu esposo Fernando Azevedo, Padre Afonso, Carlos Paes (atrás),Zaíra Barbosa, José Carlos Vieira Barbosa (Zezé Barbosa), Ivete Beda,Vilma Rangel (atrás), Maria Rita Abreu,Ivani Medina, Mariza Sardinha (irmã de Conceição), Eleonora Aguiar (sobrinha de Conceição, filha de Mariza), ao lado dela Silvia e na frente Luiza, ambas filhas de Conceição.
Conceição
Sardinha, com o prêmio, representando como patrona do time de futebol da Usina
Novo Horizonte de Rio Preto, em campeonatolocal.