VIVEIROS
DE VASCONCELOS
Um
homem do passado, do presente e do futuro
Eleonora
Sardinha Aguiar
Sebastião Viveiros de
Vasconcelos deixou marcas sólidas na região Fluminense neste último século, por
sua inteligência vívida, sua cultura pouco vulgar e seu trabalho de excelência
como educador e orador.
Nascido em São
Sebastião, no município de Campos, em 28 de setembro de 1870, Viveiros de
Vasconcelos mostrou grande vivacidade de espírito.
Seus pais, Sebastião
Viveiros de Vasconcelos e Ana Gomes de Vasconcelos, orientaram com desvelo a
educação do pequeno Sebastião, que frequentou as escolas da época: Azuarara,
Cornélio Bastos e Candido Mendes.
Logo que se achou em
condições de tomar pé no Liceu de Campos, passou na seleção e ocupou uma vaga
nessa instituição, onde completou seus estudos preparatórios.
De posse de sólidos
conhecimentos advindos de um curso bem orientado de humanidades e dotado de
predicados oratórios bem acentuados que lhe fazia fácil, eloquente e inspirada
a palavra, foi excelente professor e conseguiu, por notório saber, o direito de
advogar as causas campistas, advogando por muitos anos no Fórum de Campos.
Fundou, em 1898, em
Santo Antônio do Carangola, o “Ateneu Carangolense”, internato e externato de
instrução primária e secundária.
Em 1895, regressou a
Campos, dedicando-se à advocacia e ao magistério. Lecionava no Colégio Campista
e no Ateneu Campista e, mais tarde, veio a fundar o Colégio Viveiros, que ganhou
grande renome dentro de pouco tempo e ficou reconhecido como irrepreensível
estabelecimento de ensino importante.
Dois anos depois, foi
nomeado para a cadeira de Português da Escola Normal de Campos. E, em 1907,
entrou por concurso para lecionar as cadeiras de Português, Literatura e Lógica,
no Liceu de Humanidades de Campos.
O Presidente do Estado
Fluminense, Dr. Oliveira Botelho, em 1912, nomeou Viveiros de Vasconcelos vice-diretor
do Liceu de Campos e da Escola Normal. Em 1914, ele passa a Diretor destes dois
estabelecimentos de ensino, posição nunca antes concedida a alguém.
Como diretor do Liceu,
Viveiros de Vasconcelos fez um trabalho de grande importância. Nesse período, o
Liceu estava conquistando a fama de facilitar o ingresso de estudantes sem o
devido preparo, o que estava prejudicando a grande credibilidade dessa
instituição. Viveiros de Vasconcelos instituiu que, nas bancas examinadoras,
não houvesse professor que atuasse em escolas particulares, nem professores
ligados à política, ou que fosse alheio à disciplina a ser avaliada. Se faltasse professor na casa para assumir a
banca examinadora, ele contratava um de fora. O
padre Antônio Carmelo, por exemplo, era sempre contratado para assumir a banca
de latim. Essa atitude gerou muitos aborrecimentos ao professor Viveiros, um
deles foi quando a banca examinadora de álgebra reprovou o filho do Deputado
Horácio de Magalhães. Mas, o professor Viveiros era firme nos seus valores e
devolveu ao Liceu a posição de respeito que sempre desfrutou.
Viveiros de Vasconcelos
também promoveu grande reforma no ensino da matemática quando questionou o
ensino baseado em fórmulas, teoremas e filosofias vãs, distanciado da realidade
do aluno. Propôs uma matemática viva, cotidiana, envolvendo situações reais
como o comércio, a construção e outros setores de uso da matemática no dia a
dia.
Esse pensamento
relativo ao ensino da matemática é o pensamento que se tem hoje, mostrando como
o professor Viveiros tinha ideias muito além do seu tempo.
Sua cultura filológica
aliada aos dotes de oratória de que era possuidor davam às suas aulas
verdadeiro encanto pelo esplendor e pela magia de sua palavra quente e animada.
Sua biblioteca, rica de
obras clássicas e raras, era o remanso que a sua inteligência sorvia, a
nutrição para o seu espírito. Mas, as suas obras de “sovaco e cabeceira”, como
ele mesmo costumava dizer, eram Os Lusíadas, de Luiz de Camões; Os Sermões, de Padre Antônio Vieira e A
República, de Platão.
Segundo Barbosa Guerra,
um dos seus discípulos, Os Lusíadas ele sabia de cor.
Foi sempre um
apaixonado das belas letras e um cultor assíduo e competente da nossa língua,
cujos profundos conhecimentos deu prova nos inúmeros artigos que publicou em
jornais.
A atividade intelectual
de Viveiros de Vasconcelos abrange a poesia, a prosa, a filologia e a oratória.
A maior parte da obra
de Viveiros de Vasconcelos, rica em conhecimentos e valores, ficou perdida em
folhetins e jornais. No entanto, ele nos deixa a obra “Verbos Portugueses e
Rudimentos de Análise Léxica”, que até os dias de hoje é editado, passando
pelas adaptações das reformas da língua, mas, sem perder a sua essência.
O caderno de verbos do
Professor Viveiros já foi adotado em todas as escolas públicas do Estado do Rio
de Janeiro, nas escolas municipais de Campos e de municípios vizinhos, sem
contar com muitas escolas particulares.
Viveiros de Vasconcelos
não era um homem de negócios, não era um homem como os outros, que trabalham
para adquirir bens materiais; ele jamais teve uma casa própria, vivia para a
educação e a cultura, esmerava-se na educação dos filhos: Plínio, o mais velho,
formou-se médico, Nícia era professora de francês no Liceu, Silvia era
professora de culinária na Escola Profissional Nilo Peçanha, Waldir era
comerciante e Zalina, que faleceu aos 19 anos.
Foi casado com Maria
Moll de Vasconcelos, grande pianista, que compôs com Thieres Cardoso, amigo
íntimo do professor, a Marcha Brasil, que foi tocada em todo o país na época da
guerra. Sua arte foi restrita à família, por ser incomum a participação da
mulher nas atividades sociais da época.
O professor Viveiros
era um educador, um pensador, um homem voltado aos valores da alma, assim como
os artistas. Talvez por isso não tivesse noção do valor comercial do seu livro
e, com isso, ele vendeu os direitos autorais para o dono da gráfica que o publicava,
Sr Dinah Silva. Durante dezenas de anos, milhares de livros de verbos eram produzidos
anualmente e comercializados na região.
Após 30 anos da cessão
dos direitos autorais, é revisto o acordo e os herdeiros de Viveiros de
Vasconcelos passam a receber 10% dos rendimentos da venda do caderno de verbos,
mediante a rubrica de um dos herdeiros em cada exemplar.
Em plena atividade
profissional, aos 57 anos, Viveiros de Vasconcelos veio a falecer, em 16 de
agosto de 1927. As homenagens cabíveis foram feitas por toda a sociedade
campista e as aulas foram suspensas por três dias pela perda deste grande
educador.
Quando a palavra é
pautada em estudos profundos de referências que se fundamenta na verdade, ela é
intransponível, não é vencida pelo tempo, é eterna.
Assim é a palavra do
professor Sebastião Viveiros de Vasconcelos, um homem do passado, do presente e
do futuro.
Referências Bibliográfica:
Jornal
O Estado (30 de Janeiro de 1925)
Jornal
do Comércio (7 de outubro de 1928)
Jornal
A Notícia (16 de agosto de 1941)
Eleonora Sardinha Aguiar
É graduada em
Matemática e Ciências e Pós-graduada em Matemática pela UNIFLU/FAFIC, em
Formação de Educadores Ambientais pela UFRJ e Mestre em Economia Empresarial
pela UCAM. Trabalha com aulas de campo de Educação Ambiental na região do
Parque Estadual do Desengano de forma interdisciplinar. É autora de livros
infantis da coleção “PED (Parque Estadual do Desengano) para Crianças" e
da coleção "Contando e Cantando Matemática": O
Peixinho Chico e o Girino Jiló, Os Cantinhos da
Geometria e Juvenal
o Escravo Esperto.
Arquivo de Fotos
Família de Viveiros de Vasconcelos: sua esposa Maria Moll de Vasconcelos e seus filhos, da esquerda para direita, Silvia, Zalina, Plínio, Nícia e Waldir ao centro.
Viveiros de Vasconcelos como paraninfo de uma turma da Escola Normal em 1919.
Corpo docente do Lyceu de Humanidades e da Escola Normal no salão nobre do Lyceu.
Parte da carta escrita pelo professor Viveiros ao Diretor Geral de Istrução do Estafo do Rio de Janeiro, seria hoje equivalente ao Secretário de Educação, na ocasião das acusações feitas pelo deputado Horácio Magalhães.
Parte
do texto publicado por Viveiros de Vasconcelos em jornal, onde ele fala sobre o
ensino da matemática no Liceu.
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