A
MINEIRA MAIS CAMPISTA
Eliana
Garcia
Quem um dia encontrou
com uma senhora andando pela cidade carregando um galo em uma sacola pode ter
estranhado. Incomum!? Bizarro!? Esquisito!? Não. Era poesia. O famoso galo
chamava-se Manhã, nome inspirado no famoso poema Tecendo a Manhã de João Cabral
de Melo Neto: “Um galo sozinho não tece uma manhã/Ele precisará sempre de
outros galos/ De um que apanhe esse grito que ele/ e o lance a outro...”
Reafirmando: era poesia não só por isso. Era poesia porque Lucia Miners vivia
literalmente sua sensibilidade poética expressa tanto em seus textos quanto no
seu modo de vida. Uma vez Lucia plantou e colheu alimentos dentro de um cômodo
destelhado de sua própria casa. Convivia com plantas e animais como quem
convive com as pessoas.
Lucia nasceu em
Barbacena, Minas Gerais, em 1934. Viveu no Ceará e no Rio de Janeiro, onde,
durante a ditadura militar, criou um importante suplemento literário no jornal Tribuna
da Imprensa. Por meio desse projeto, ela realizou um expressivo intercâmbio
cultural com escritores de diferentes pontos do país. Conheceu Campos ao
organizar um ciclo de palestras para a Faculdade de Filosofia. Aqui, viveu e
trabalhou por trinta anos apaixonada pela cidade, pelo povo, pela cultura do
lugar e pelo rio. Dessa paixão caudalosa e molhada, surgiu o poema “Parahyba de
Mim” e muitos outros com os quais venceu vários festivais: “Sobre a tessitura
do existir/ o que dizer/ de amor?/ Do ser capaz/ de manejar todo o dia/ (cada
coisa em seu lugar)/ e de ser apenas/ a própria pessoa/ sem se diluir nos
outros/ e, ao mesmo tempo, recebê-los/ com a naturalidade da posse de um
abraço/ ou de seu próprio cabelo/ como poder? (...)”
A Lucia do Galo, como
muitos a conheciam foi mãe, avó, educadora, jornalista, escritora de prosa e de
versos primorosos. Possui uma escrita atual que desconstrói estereótipos, que
fala de temas delicados que afetam os sentidos de quem a lê. Mas Lucia precisa ser mais lida, melhor conhecida pelos
seus conterrâneos de coração. Por isso, Carolina Cássia, Christina Cruz,
Roosevel Maia e Vera Pletitsch, pessoas de e da cultura campista, têm fomentado
os “Encontros D’Balde” e o sarau
“Parahyba de Mim” com o objetivo de homenagear e difundir a obra da escritora . Além disso, ela possui
ainda material inédito que oxalá será publicado. O grupo busca caminhos para
valorização da sua obra. “Quando o galo cantar, os escritos de Lucia voarão.” E
ele cantará certamente, embora os tempos estejam sombrios para a arte.
Ela escreveu muitos de
seus poemas em guardanapos e folhas avulsas, espalhando-os entre os muitos
amigos. Geralmente, esse material era ilustrado por ela mesma.
Lucia Miners, uma
mulher inventadeira de histórias, criadora de versos que rimou Campos dos
Goytacazes e o rio que a corta ao meio com a sua inspiração mais profunda e que
partiu em 2012, deixando a impressão de que a sua cena ainda está em curso,
assim como o rio, e, que ela merece mais aplausos, pois, além do mais era a
mineira mais campista. Seus textos revelam e comprovam essa cidadania.
Nasceu entre as montanhas de Minas, mas veio para Campos
ainda jovem. É graduada em Letras pela FAFIC, Pós em Língua Portuguesa (PUC-BH)
e PÓS em Currículo e Prática de Ensino (PUC-RJ). É autora de livros de
Português para o Ensino Fundamental, de livros de literatura infantil “Nino sem
juízo” e assina uma coluna no jornal Terceira
Via.
Arquivo
de Fotos
Lúcia
Miners na Biblioteca Infantil do Palácio da Cultura – Biblioteca Nilo Peçanha, que
recebeu o seu nome.
Algumas
de suas premiadas obras infantis
Homenagem
a Lúcia Miners
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